quarta-feira, outubro 10, 2007

Bere'shith: A cena da origem II

9. E Deus disse ... § ... que se reúnam as águas ... §
... sob o céufogoágua ... § ... num sítio uno ......... §§
... e que se aviste ... § ... o seco ........ §§§
... E foi assim

10. E Deus chamou ao seco ... § ... terra ....... §§
.... e às águas reunidas ... § ... chamou mar-de-águas ....... §§§
.... E Deus viu ... § ... que era bom

11. E Deus disse ... § ... que vice a terra ... § ... de relva ... §
.... de erva ... § ... que gere semente ...... §§
.... de árvore-de-fruto .. § .. que dê fruto .. § .. de sua espécie .. §§
.... com a semente dentro ... § ... por sobre a terra ....... §§§
.... E foi assim

12. E a terra vicejou ... § ... relva ... §
.... erva que gera semente ... § ... de sua espécie ...... §§
.... e árvore que dá fruto ... § ... com a semente dentro .... §
.... de sua espécie ............ §§§
.... E Deus viu ... § ... que era bom

13. E foi tarde e foi manhã .... §
.... dia terceiro

14. E Deus disse ... § ... sejam luminárias .... §
.... no arco do céufogoágua ....... §§
.... para dividir .... §§ .... entre o dia ... § ... e a noite ..... §§§
.... E para ser quais sinais ... § ... para as estações .... §§
.... e para os dias ... § ... e os anos

15. E que sejam luminárias ... § ... no arco do céufogoágua .... §§
.... para iluminar ... § ... a terra ........ §§§
.... E foi assim

16. E Deus fez ..... §§ ..... os dias luzeiros ... § ... grandes ..... §§§
.... O luzeiro maior ... § ... para a regência do dia ..... §§
.... e o luzeiro menor ... § ... para a regência da noite ...... §§
.... e as estrelas

17. E Deus ... § ... o deu ... § ... ao arco do céufogoágua ..... §§§
.... Para iluminar ... § ... a terra

18. E para reinar ... § ... sobre o dia e sobre a noite ...... §§
.... e para dividir ...... §§
.... entre a luz ... § ... e a treva ......... §§§
.... E Deus viu ... § ... que era bom

19. E foi tarde e foi manhã .... §
.... dia quarto


(tradução: Haroldo de Campos)


(In: Bere'shith: A cena da origem)

terça-feira, outubro 09, 2007

Bere'shith: A cena da origem I

I


1. No começar ... § ... Deus criando .......... §§§
... O fogoágua .... § .... e a terra

2. E a terra ... § ... era lodo ... § ... torvo .... §§
... e a treva ... § ... sobre o rosto do abismo ....... §§§
... E o sopro-Deus ........ §§
... revoa ... § ... sobre o rosto da água

3. E Deus disse ... § ... seja luz ....... §§§
... E foi luz

4. E Deus viu ... § ... que a luz ... § ... era boa ....... §§§
... E Deus dividiu ...... §§
... entre a luz ... § ... e a treva

5. E Deus chamou à luz ... § ... dia ...... §§
... e à treva ... § ... chamou noite ........ §§§
... E foi tarde e foi manhã .... §
... dia um

6. E Deus disse ........ §§
... seja uma arcada ... § ... no seio das águas ....... §§§
... E que divida ..... §§
... entre água ... § ... e água

7. E Deus fez ... § ... a arcada ...... §§
... e dividiu ... § ... entre água ... § ... sob-a-arcada ..... §§
... e água ...... § ... sobre-a-arcada ....... §§§
... E foi assim

8. E Deus chamou ... § ... à arcada ... § ... céufogoágua ..... §§§
... E foi tarde e foi manhã ... §
... dia segundo


____


CONVENÇÃO DE LEITURA:

§§§ 'athnáh (descanso) - .... o principal disjuntivo, correspondente
................................. à cesura;
divide o versículo em dois
................................. hemistíquios (não necessariamente
................................. iguais); pausa (espacejamento) maior

§§ selgotá (racimo) - ........ acentos importantes
... shalshéleth (cadeia) ..... pausas menores em relação à anterior
... zaqef qaton
... (elevador pequeno)
... zaqef gadol
... (elevador grande)

§ todos os demais disjuntivos - ... acentos menos importantes
..(num total de treze) .............. pausas mínimas



(tradução: Haroldo de Campos)


(In: Bere'shith: A cena da origem)

segunda-feira, outubro 08, 2007

Assinatura Acontecimento Contexto

Todo signo lingüístico ou não-lingüístico, falado ou escrito (no sentido corrente dessa oposição), em pequena ou grande escala, pode ser citado, posto entre aspas; por isso ele pode romper com todo o contexto dado, engendrar ao infinito novos contextos, de modo absolutamente não-saturável. Isso supõe não que a marca valha fora do contexto mas, ao contrário, que só existam contextos sem nenhum centro absoluto de ancoragem.


(Jacques Derrida. In: Limited Inc.)

sábado, outubro 06, 2007

A influência da engenharia nas artes nacionais

O que faz viver, isto é, não subsistir, nas sociedades? A antitradição, a tendência para não permanecer. E a tendência para não permanecer tem só uma forma - o apego ao não passado, ao não presente, e ao não futuro. Isto quer dizer o apego ao abstrato e ao ideal em que não se confia. Por isso a força que conserva as sociedades é a inteligência de abstração e imaginação.

A inteligência de abstração e imaginação tem duas formas - a matemática e a crítica. A matemática abstrai de toda a experiência, exceto da essência da experiência; o único critério da verdadeira objetividade que temos é o critério da matematização. A crítica abstrai de toda a experiência exceto de ela ser nossa; o único critério de verdadeira subjetividade que temos é o da confrontação, não das impressões com as cousas, mas das cousas com as nossas impressões.

Deve compreender-se que entendo por crítica toda a atividade crítica: a crítica, no sentido em que emprego a palavra, inclui toda a forma de atividade que ou não aceita, ou quer substituir a objetividade da experiência. Assim, a arte é uma forma de crítica, porque fazer arte é confessar que a vida ou não presta, ou não chega. Assim, também, a parte por assim dizer dogmática da religião (não a sua parte social nem sua parte metafísica) é uma forma de crítica, porque crer numa cousa sem ser com uma razão, embora aparente (como acontece na metafísica, que procura explicar), não sendo essa coisa um elemento da experiência (objetiva), é querer substituir essa experiência...

A crítica é, em suma, todo o artifício que é feito com inteligência, e sem fim social nenhum. Desde que sirva um ideal em vez de uma impressão, a crítica é falsa como crítica, não é crítica, em suma, mas só opinião.


(Álvaro de Campos. In: Idéias Estéticas da Arte)

sexta-feira, outubro 05, 2007

Arthur Rimbaud IV

BABAQUICES

I

O COMILÃO

Casquete
De fera,
Cacete
Que encera,

Pivete
Godera
Bufete
Na espera

E mete
Porrete
Na pera,

Derrete
Croquete:
Pudera!


III

O COCHEIRO BÊBADO

Nacre
Sai,
Lacre
Vai;

Acre
Guai:
Fiacre
Cai!

Dama
Tombo:
Lombo

Preme
- Clama!
Geme.


(tradução: Ivo Barroso)


(Arthur Rimbaud. In: Poesia Completa)

quinta-feira, outubro 04, 2007

Arthur Rimbaud III

A ESTRELA CHOROU ROSA...


A estrela chorou rosa ao céu alto de tua orelha.
O infinito rolou branco, da nuca aos rins.
O mar perolou ruivo em tua teta vermelha.
E o homem sangrou negro o altar de teus quadris.


(tradução: Augusto de Campos)


(Arthur Rimbaud. In: Rimbaud Livre)

quarta-feira, outubro 03, 2007

Arthur Rimbaud II

A MALICIOSA


Na escura sala de jantar, que recendia
Um forte odor a fruta e a verniz de madeira,
Peguei um prato de não sei qual iguaria
Belga, e me esparramei numa enorme cadeira.

Escutava o relógio, ao comer - muito pensativo
E feliz - quando a porta abrindo em baforada
Vem da cozinha a criada e, sem qualquer motivo,
- Xale frouxo, excitante e muito bem penteada;

A passear um dedinho em sua veludosa
Face, que era um pêssego branco e cor-de-rosa,
E a fazer um muxoxo infantil, que era um gosto, -

Arranjar ao meu lado o prato, dando ensejo,
E me diz: - claro, eu sei, para ganhar um beijo -
Baixinho: "Vê, peguei uma friage no rosto..."


(tradução: Ivo Barroso)


(Arthur Rimbaud. In: Poesia Completa)

terça-feira, outubro 02, 2007

Arthur Rimbaud I

IRAS DE CÉSARES


O homem pálido segue em longas galerias
Floridas, traje negro e o charuto nos dentes:
O homem pálido pensa em suas Tulherias
- E às vezes tem no frouxo olhar brilhos ardentes...

Um ébrio Imperador em vinte anos de orgia!
Dissera: "Eu vou soprar, mas com muito cuidado,
A Liberdade, assim como uma vela, um dia!"
Revive a Liberdade! Está descadeirado!

Está preso. - Que nome em seus lábios, absorto,
Esboça? Que lembrança implacável retorce-o?
Não sabereis. O Imperador tem olho morto.

Recorda-se talvez dos óculos do Sócio...
E fica a contemplar do charuto que esvoaça
- Ah! noites de Saint-Cloud! - a azulada fumaça.


(tradução: Ivo Barroso)


(Arthur Rimbaud. In: Poesia Completa)

segunda-feira, outubro 01, 2007

Ancient Sound, Abstract on Black



Paul Klee, 1925