quarta-feira, novembro 05, 2008

Poema múltiplo - SIMPOESIA 2008

Abaixo se lê o poema Gopala, escrito sobre as mesas do restaurante homônimo, em São Paulo, durante o SIMPOESIA, por diversas mãos - Delmo Montenegro, Glauce Soares, Ligia Dabul, Izabela Leal, Pablo Araujo e Thiago Ponce de Moraes.
.
GOPALA
.
sob
a carcaça fétida
do último Ganesha
— almoçamos —
a carne do vazio
do zero
em si
— a constelação primeira —
a hora vara
a primavera
— mas é São Paulo — era
outubro ainda —
nada
— a estupidez de
nossas peles —
desfazendo-se
— almoçamos —
como o verme que
dança
sob
a sílaba apsara
.
alguém reclama da
falta de carne
sim, uma feijoada de soja
e um puro perímetro claro
.
Shiva dança sobre
o vazio
sob
as reclamações
com fome
Gandhi olha de soslaio
ninguém sabe mais
onde está outubro
nem Ganesha
nem o zero
nem São Paulo
nem os vermes
Gandhi aponta a saída
a porta fechada
nenhuma palavra
a estupidez
sob
a sílaba apsara
nenhum verso
na dobra desta trágica
mesa
Shiva interrompe
reclamações
ou qualquer dança
.
nem a leve chuva lá fora
sacia a fome que sinto de você,
boca infinita a devorar a primavera
onde não estamos
.
devorados
pela constelação primeira
— almoçamos —
devorados pela última pele dos vermes
— última carcaça —
devorados
pela infinita fome dos deuses
— desfazemo-nos
no puro perímetro claro —
hora-vara
em torno de Gopala
— o verso zero
.
São Paulo, outubro de 2008.