sábado, abril 28, 2007

O Casulo

A última edição do jornal de literatura contemporânea O Casulo foi bastante interessante. Os poetas que nela publicaram fizeram, também, o papel de críticos de poesia alheia. Assim, todos criticaram e todos foram criticados, seja lá o que crítica signifique.

Escrevi sobre os poemas de uma poeta, Sandra Ciccone, a qual não muito se entusiasmou com meu dito; em verdade, escreveu uma réplica para o esquivar que chamei crítica. Para sermos justos, mesmo que isso não exista, coloco o link para o revide ao que abaixo lerão: Proposta de debate.

O texto, enfim:



Sabe-se, pois, que arte é o que é e, sendo, possui partes várias que são, numa peça tal, relevantes e imprescindíveis. Caminho, então, de encontro aos poemas de Ciccone - em minha tentativa de apresentar o que penso perceber na estruturação geral deste conjunto de Poemas que, de uma forma ou outra, lançam-se como sensações quando leio. Portanto, como leio, tenho imprecisas e vagas constatações, que não comprometem ou aprimoram o que vai escrito pela poeta.
Ao andar no que li pelo que li, digo da primeira sensação: a intenção da poeta é a sonoridade nos versos. Direi apenas que a intenção parece a de tentar criar o fugaz na escuta plástica dos versos, entrecortados, como estão, em falhas de algum jeito calculadas. Para exemplo aponto o poema Amazon, que mesmo sendo bastante discursivo desenvolve certa economia verbal; necessária para sustentar a amplitude da fala: "senha da selva é entrar/ camuflada/ com marcas do que/ não é cidade". Outro exemplo é o poema Beleza. Sua velocidade intui a rapidez do contemporâneo: "até o papel de/ pele da beleza/ ser poder de seda/ ter poder de poder/ permanecer no/ alguém se opera/ top of seduction". Há de se perceber que a proposição temática do poema é de importância pouca e de alguma fragilidade; sendo assim, se perceberá o esforço de musicalidade que, por arranjo áspero, cria ruídos rítmicos que acompanham a fatalidade do som: a impossibilidade da conclusão no pensamento do que seja. Configura-se, pois, colocada de lado a temática, uma busca pela sensação de escape que o balbucio das palavras demarcam - o que é ainda a permanência da sensação moderna da anteescrita, muito usada pelos dadaístas.
Sensações. O que resta, então, da leitura dos poemas? Faria ressalvas, muitas; algumas por não saber ser crítico (como se entende por ora) e por me opor às intenções de superação ou aperfeiçoamento da literatura através da interposição de uma consciência alheia, fria e fraca. Outras ressalvas se fariam por ter de partir daqui para colocar o que se me coloca. Não existindo jeito ideal ou fuga, anuncio de pronto que estive a externar uma sensação de leitor de poesia, submetendo-me ao ler os poemas de Sandra Ciccone; estive, assim, a ler sensacionistamente, sem cair no banal do comparativo falho, no óbvio e no evidente de um comentarista.