quinta-feira, setembro 21, 2006

Afastamento de crítica


Não há nada que toque menos uma obra de arte do que palavras de crítica: elas não passam de mal-entendidos mais ou menos afortunados. As coisas em geral não são tão fáceis de apreender e dizer como normalmente nos querem levar a acreditar; a maioria dos acontecimentos é indizível, realiza-se em um espaço que nunca uma palavra penetrou, e mais indizíveis do que todos os acontecimentos são as obras de arte, existências misteriosas, cuja vida perdura ao lado da nossa, que passa.

(Rainer Maria Rilke)

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1) a obra de arte, um poema que seja, sabe ao menos falar de si.

2) é preciso deixarmos de lado a consciência de que a crítica pode, de alguma forma, modificar a literatura.

3) se o que foi posto, foi posto deste ou daquele modo, é porque se deve apresentar deste ou daquele modo; não de outro.

4) a crítica, penso, só pode existir se literariamente: só uma obra de arte sabe responder ao diálogo mudo imposto.

5) não existe amizade em literatura; menos em poesia, ouso: poemas, enquanto poesia, se tem que afundar uns aos outros, a si mesmos. Não há tradição plena a se estabelecer: nem de si para si, nem de si para outro.