sexta-feira, setembro 28, 2007

Gerard Manley Hopkins V

PARAGEM-PARAÍSO
Uma noviça toma o véu


.....Quis ir para um lugar
...........Onde não falte fonte,
Nem grasse gelo áspero e bifronte;
...Só lírios para olhar.

....Pedi para ficar
..........Onde o vento não ouse,
Silente, a verde vaga ao porto pouse;
....Longe, o clamor do mar.


(tradução: Augusto de Campos)


(Gerard Manley Hopkins. In: A Beleza Difícil)

quinta-feira, setembro 27, 2007

Gerard Manley Hopkins IV

Ecoa isso, ecoa,
Cuco, ave, abre as fontes-ouvidos, coração-nascentes, suavemente
.....voa
Num revôo, um rebôo, uma canção
De troncos trincados e buracos no chão, oco oco oco chão:
Toda paisagem nasce de súbito a um som.



(tradução: Augusto de Campos)


(Gerard Manley Hopkins. In: A Beleza Difícil)

quarta-feira, setembro 26, 2007

Gerard Manley Hopkins III

PAZ

Quando, jamais, tu, Paz, arisca pomba, tímida asas pousando,
Teu revoar a meu redor, enfim terminarás, e serás sobre meus
.............................................................[ramos?
Quando, oh! quando, Paz, assim será? Vamos! não vou fingir

Para o meu próprio coração: confesso, sim, que às vezes vens; mas
Essa paz picadinha é pobre paz. Que pura paz vai permitir
Alarmes de guerras tais, apavorantes, morte da paz?

Concedo que ao roubar-me a Paz, o meu Senhor me traz, em seu
.............................................................[lugar
Algum bem, pois deixa-me então a Paciência aprimorada, que
.............................................................[a seguir
Em Paz se emplumará. E quando a Paz aqui vier morar,
Ela virá com trabalho a executar, não virá somente a arrulhar -
..........................Virá fazer seu ninho e procriar.


(tradução: Aíla de Oliveira Gomes)


(Gerard Manley Hopkins. In: Poemas)

terça-feira, setembro 25, 2007

Gerard Manley Hopkins II

O NAUFRÁGIO DO DEUTSCHLAND (estrofe 8)

...........................Revela! Bem ou mal,
...................Vale a melhor ou a pior
.........Palavra ao fim! Qual a polpa ao pal-
...............Par, de pele e velo o licor
....Jorra! - e o ser de jus, doce ou acre, com isto
....Trans, luz, borda! - Cedo ou tarde, como for,
..............Ao herói do Calvário, aos pés de Cristo -
Se o quer ou não, com fé ou sem - vai o homem afinal.


(tradução: Augusto de Campos)


(Gerard Manley Hopkins. In: A Beleza Difícil)

segunda-feira, setembro 24, 2007

Gerard Manley Hopkins I

A GRANDEZA DE DEUS


A grandeza de Deus o mundo inteiro admira.
...Em ouro ou ouropel faísca o seu fulgor;
...Grandiosa em cada grão, qual limo em óleo amor-
Tecido. Mas por que não temem sua ira?
Gerações vêm e vão; tudo o que gera, gira
...E gora em mercancia; em barro, em borra de labor;
...E ao homem mancha o suor, o sujo, a sujeição; sem cor
O solo agora é; nem mais, solado, o pé o sentira.

E ainda assim a natureza não se curva;
...Um límpido frescor do ser das coisas vaza;
E quando a última luz o torvo Oeste turva
...Ah, a aurora, ao fim da fímbria oriental, abrasa -
Porque o Espírito Santo sobre a curva
...Terra com alma ardente sobre ah a alva asa.


(tradução: Augusto de Campos)


(Gerard Manley Hopkins. In: A Beleza Difícil)

sexta-feira, setembro 21, 2007

Confraria do Vento 16

Prezados amigos;

É com muita felicidade que faço parte, a partir deste número, do corpo editorial da revista Confraria - em companhia dos comparsas Márcio-André, Pablo Araujo, Ronaldo Ferrito e Victor Paes.

A revista se propõe a trazer textos inéditos e de muita qualidade - de autores do Brasil ou do restante do mundo - aos olhos dos leitores.

Além de textos ensaísticos, poemas, contos, peças etc., a Confraria traz, ainda, obras de artes plásticas e trilhas sonoras impressionantes.

Abaixo, seguem a imagem de capa desse número da revista, gentilmente cedida, junto a outras diversas imagens, por Inez Storer, e o índice de autores que têm trabalhos inéditos publicados agora.

Visitem!



João Gilberto Noll
Martin Heidegger
Stephen Rodefer
Régis Bonvicino
Inez Storer
Adrián Juárez
Cristo Demoledor
Nunca
Adriana Bebiano
Rita Dahl

Adolfo Montejo Navas
Márcio-André
Aderaldo Luciano
Guilherme Zarvos
Rod Britto
Ronaldo Ferrito
Jason Campelo
Marpessa de Castro
José Eduardo Costa Silva


Endereço da Confraria: www.revistaconfraria.com




Até lá!

quinta-feira, setembro 20, 2007

Sem título


Iberê Camargo, 1986

quarta-feira, setembro 19, 2007

Tradução de poemas de Lola Andrés

Prezados amigos,

Recebi, ontem, email do caro Joan Navarro, poeta e tradutor da Catalunha, sempre preocupado em movimentar o que se dá em poesia numa escala mundial.

A nova edição da sèrieAlfa traz quatro poetas traduzidos para espanhol, inglês, francês e português.

Fiquei encarregado, enfim, de traduzir para o português poemas de Lola Andrés. O Jason, não posso deixar de dizer, deu aquela força no fechamento.


O link para a revista é o que segue: sèrieAlfa 35. Para ler os poetas basta clicar nos links com seus respectivos nomes.



Até já.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Inutilidade da Crítica

De todos os lados ouvimos o clamor de que o nosso tempo necessita de um grande poeta. O vazio central de todas as modernas realizações é uma coisa mais para se sentir do que para ser falada. Se o grande poeta tivesse de aparecer, quem estaria presente para descobri-lo? Quem pode dizer se ele já não apareceu? O público ledor vê nos jornais notícias das obras daqueles homens cuja influência e camaradagens tornaram-nos conhecidos, ou cuja secundariedade fez que fossem aceitos pela multidão. O grande poeta pode já ter aparecido; sua obra teria sido noticiada em poucas palavras de vient-de-paraître em algum sumário bibliográfico de um jornal de crítica.


[Fernando Pessoa. In: Idéias estéticas da literatura]

domingo, setembro 16, 2007

Sem título



Waltercio Caldas, 1994

sábado, setembro 15, 2007

The Great Red Dragon and the Woman Clothed in Sun



William Blake, 1806-1809

sexta-feira, setembro 14, 2007

Ricardo Reis VII

Um poema é a projeção de uma idéia em palavras através da emoção. A emoção não é base da poesia: é tão-somente o meio de que a idéia se serve para se reduzir a palavras.
(...)
Em tudo o que se diz - poesia ou prosa - há idéia e emoção. A poesia difere da prosa apenas em que escolhe um novo meio exterior, além da palavra, para projetar a idéia em palavras através da emoção. Esse meio é o ritmo, a rima, a estrofe; ou todas, ou duas, ou uma só. Porém menos que uma só creio que não possa ser.
A idéia, ao servir-se da emoção para se exprimir em palavras, contorna e define essa emoção, e o ritmo, ou a rima, ou a estrofe são a projeção desse contorno, a afirmação da idéia através de uma emoção, que, se a idéia não contornasse, se extravasaria e perderia a própria capacidade de expressão.
(...)
Na palavra, a inteligência dá a frase, a emoção, o ritmo. Quando o pensamento do poeta é alto, isto é, formado de uma idéia que produz uma emoção, esse pensamento, já de si harmônico pela junção equilibrada de emoção e de sentimento à frase e ao ritmo, e assim, como disse, a frase, súbdita do pensamento que a define, busca-o, e o ritmo, escravo da emoção que esse pensamento agregou a si, o serve.


(Ricardo Reis. In: Ficções do Interlúdio)

quinta-feira, setembro 13, 2007

Ricardo Reis VI

No magno dia até os sons são claros.
Pelo repouso do amplo campo tardam.
......Múrmura, a brisa cala.
Quisera, como os sons, viver das coisas
Mas não ser delas, conseqüência alada
......Em que o real vai longe.


(Ricardo Reis. In: Odes de Ricardo Reis)

quarta-feira, setembro 12, 2007

Ricardo Reis V

Ao longe os montes têm neve ao sol,
Mas é suave já o frio calmo
.......Que alisa e agudece
.......Os dardos do sol alto.

Hoje, Neera, não nos escondamos,
Nada nos falta, porque nada somos.
.......Não esperamos nada
.......E temos frio ao sol.

Mas tal como é, gozemos o momento,
Solenes na alegria levemente,
.......E aguardando a morte
.......Como quem a conhece.


(Ricardo Reis. In: Odes de Ricardo de Reis)

terça-feira, setembro 11, 2007

Ensaio sobre poemas de Luís Serguilha

Prezados,

Foi publicado, na Zunái deste mês, um ensaio que escrevi sobre os poemas do poeta português Luís Serguilha.

Caso queiram, podem acessar a revista por aqui. Para ler o ensaio, especificamente, entrem cá: Honestidade poética nos poemas de Luís Serguilha.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Ricardo Reis IV

Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,

Se cada ano com a primavera
As folhas aparecem
E com o outono cessam?

E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indif'rença
E a confiança mole
Na hora fugitiva
.


(Ricardo Reis. In: Odes de Ricardo Reis)

domingo, setembro 09, 2007

Ricardo Reis III

Não a Ti, Cristo, odeio ou te não quero.
Em ti como nos outros creio deuses mais velhos.
Só te tenho por não mais nem menos
Do que eles, mas mais novo apenas.


Odeio-os sim, e a esses com calma aborreço,
Que te querem acima dos outros teus iguais deuses.
Quero-te onde tu stás, nem mais alto
Nem mais baixo que eles, tu apenas.


Deus triste, preciso talvez porque nenhum havia
Como tu, um a mais no Panteão e no culto,
Nada mais, nem mais alto nem mais puro
Porque para tudo havia deuses, menos tu.


Cura tu, idólatra exclusivo de Cristo, que a vida
É múltipla e todos os dias são diferentes dos outros,
E só sendo múltiplos como eles
'Staremos com a verdade e sós.


(Ricardo Reis. In: Odes de Ricardo Reis)

sexta-feira, setembro 07, 2007

Ricardo Reis II

Olho os campos, Neera,
Campos, campos, e sofro
Já o frio da sombra
Em que não terei olhos.
A caveira ante-sinto
Que serei não sentindo,
Ou só quanto o que ignoro
Me incógnito ministre.
E menos ao instante
Choro, que a mim futuro,
Súbdito ausente e nulo
Do universal destino.


(Ricardo Reis. In: Odes de Ricardo Reis)

quinta-feira, setembro 06, 2007

Ricardo Reis I

Segue o teu destino,
Rega tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é sombra
De arvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues,
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.


(Ricardo Reis. In: Odes de Ricardo Reis)

quarta-feira, setembro 05, 2007

Paul Celan X

Certamente, o poema - o poema hoje - mostra (e isto tem a ver, creio, embora só indiretamente, com as dificuldades - não subestimáveis - da escolha de palavras, com o rápido declive da sintaxe ou o sentido atento para a elipse), ele mostra uma forte e inegável tendência ao emudecimento.
Ele se afirma - permitam-me, depois de tantas formulações extremas, fazer mais esta -, o poema se afirma à beira de si mesmo; incessantemente ele chama e se busca, a fim de existir, de seu Já-não-mais em seu Ainda-e-sempre.

Esse Ainda-e-sempre só pode ser mesmo um falar. Mas não a linguagem pura e simples e supostamente também não somente através da palavra "analogia".
Mas a linguagem atualizada, libertada sob o signo de uma individuação até radical, mas ao mesmo tempo também consciente dos limites que lhe foram traçados pela língua, das possibilidades que lhe foram abertas pela linguagem, tendo em vista a individuação restante.
Esse Ainda-e-sempre do poema só pode ser encontrado no poema daquele que não esquece que fala sob o ângulo de incidência de sua existência, de sua criaturização.
Então o poema seria - mais claro ainda que então - linguagem transfigurada de um indivíduo e, de acordo com a sua mais profunda essência, presente e presença.

O poema é solitário. É solitário e andante. Quem o escreve, a ele fica entregue.


(tradução de Claudia Cavalcanti)


(Paul Celan. In: O Meridiano)


____


Poemas são também presentes - presentes aos atentos. Presentes que levam consigo um destino.

Vivemos sob céus sombrios, e... são poucas as pessoas. É por isso que existem tão poucos poemas.


(tradução de Claudia Cavalcanti)


(Paul Celan. In: Carta a Hans Bender)

terça-feira, setembro 04, 2007

Paul Celan IX

TODAS AS FORMAS DO SONO, cristalinas,
que assumiste
na sombra da linguagem,

a elas
conduzo eu o meu sangue,

os versos de imagens, a esses
vou albergá-los
nas veias cortadas
do meu conhecimento -

o meu luto, bem vejo,
corre para ti.


(tradução de Y. K. Centeno)


(Paul Celan. In: A Cerca do Tempo)

segunda-feira, setembro 03, 2007

Paul Celan VIII

DIZEM-ME QUE O MACHADO FLORIU,
dizem-me que não se pode nomear o lugar,

dizem-me que o pão que o olha
salva o enforcado,
o pão que a mulher lhe cozeu,

dizem-me que chamam à vida
o único refúgio.


(tradução de João Barrento)


(Paul Celan. In: A Parte da Neve)

domingo, setembro 02, 2007

Paul Celan VII

OS DESAPARECIDOS
papagaios-cinza
rezam a missa
em tua boca.

Ouves chover
e achas que também agora
seria Deus.


(tradução de Claudia Cavalcanti)


(Paul Celan. In: Pressão da Luz)

sábado, setembro 01, 2007

Paul Celan VI

A MARCA DE UMA MORDIDA em lugar algum.

Também a ela
tens de combater
a partir daqui.


(tradução de Claudia Cavalcanti)


(Paul Celan. In: Sóis em Fios)